A Confederação Brasileira de Muay Thai tem o prazer de divulgar uma entrevista exclusiva com o fundador e presidente da Federação Baiana de Muay Thai Esportivo, o Mestre Álvaro de Aguiar.
Um dos pioneiros da modalidade no Brasil, o Delegado da CBMT tem mesmo muita história para contar. A começar pelos grandes resultados esportivos conquistados durante sua vitoriosa trajetória no esporte, passando por experiências enriquecedoras, como a do convívio com lendas do esporte como Bob Conan e Frida Gibson, até chegar aos conselhos de um homem que tem propriedade para falar sobre os rumos do Muay Thai. Sabedoria advinda de uma vida inteira dedicada ao desenvolvimento da arte marcial, que, além de muitas glórias, lhe rendeu também o curioso apelido de “Van Damme Brasileiro”.
Como foi o seu primeiro contato com o Muay Thai?
R: O primeiro contato que eu tive com o Muay Thai foi no Paraguai no final da década de 70, quando eu lutei no Evento da ASAM (Campeonato Sul-Americano Aberto de Artes Marciais). Na época, conheci alguns professores da Argentina que já praticavam Muay Thai, ainda chamado de de Boxe Tailandês, e surgiu a oportunidade de fazer um intercâmbio com a Equipe da Argentina. Já na década de 80, eu fui para o Rio de Janeiro, onde treinei Muay Thai com Wellington Narany e com um tailandês que era seu mestre. Cheguei a dar aula na Academia Naja, na Rua do Catete, com o Almirante Tamandaré.
É possível comparar o momento vivido pelo Muay Thai no país em seu início de trajetória com o atual? Quais foram os principais avanços?
R: O principal avanço foi a fundação da CBMT, que é a única Entidade de Muay Thai reconhecida pelo Ministério do Esporte. Na década de 80 éramos filiados a uma Entidade de Boxe do Rio de Janeiro, mas a modalidade não era muito bem representada, só havendo representação em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Comparando com os dias de hoje, percebemos que o Muay Thai realmente evoluiu muito, apesar de ter sido um crescimento desordenado, porque, infelizmente, muita gente vai para Tailândia e volta Mestre de Muay Thai sem passar pela CBMT.
Diz a lenda, que no exterior você chegou a trabalhar na academia da família de Benny “The Jet” Urquidez, além de ter sido sparing de Frida Gibson e Bob Conan. Conte-nos sobre essas experiências.
R: Na realidade, eu não trabalhei na Academia da família de Benny The Jat Urquidez. A história foi a seguinte: quando eu cheguei nos Estados Unidos eu só pensava em lutar. Consegui, inclusive, vencer vários eventos como o Kung-Fu (Tat mau Wong), em São Francisco, Campeonato Mundial de Passadina entre tantos outros. Mas não era o que eu buscava. Então, um amigo meu, André Alex Lima, me convidou para ir conhecer a Academia de Rubens Urquidez e o irmão, e também o treinador, de Benny “The Jet” Urquidez. Chegando lá, o Rubens Urquidez perguntou se eu lutava profissionalmente, eu respondi que sim e que toparia enfrentar qualquer desafio. Rubens Urquidez sorriu e disse para que eu voltasse preparado para um teste e foi o que eu fiz.
Quando voltei em outro dia, com a companhia do André Alex, já que eu ainda não falava um inglês fluentes, o Rubens pediu para eu me trocar e me aquecer para subir no ringue. Logo que eu subi, ele chamou um atleta de 100 kg, campeão mundial e com fama de nocauteador (risos). Meu amigo André, na mesma hora, me mandou descer do ringue, porque o cara era gigante e experiente. Apenas respondi que só sairia do ringue carregado e comecei o combate.
Bem iniciou a luta, o cara veio para cima de mim como um louco e eu acertei um chute na cabeça dele o fazendo cair. Quando ele levantou, dei um chute na coxa o fazendo cair novamente. Do lado de fora, o André gritava para eu correr, enquanto, Rubens Urquidez manda o atleta da Tarzana Gym me nocautear. Sobrevivi bem no 1º e 2º round sangrando. No 3º, eu consegui acertar vários socos no gigante e deixei-o cambaleando e com o nariz. Eu estava bem preparado e confiante, o fato de eu fazer luta de Boxe, no Brasil, com pesos mais pesados, como o Maguila, Luizão, Ailton Pessoa e Sergio Batarelli, me preparou para esse desafio.
Antes que eu nocauteasse o gigante, o Rubens mandou parar a luta e me contratou para treinar e representar a Federação dele, a WWKP. Ali, eu conquistei vários títulos, inclusive, o Campeonato Mundial de Kick Boxing e Muay Thai, que nos Estados Unidos é a mesma coisa.
Frida Gibson era atleta de Rubens Urquidez na época. Além de eu ser sparring dela, eu a ajudava com minhas técnicas e acabamos amigos. Fui sparring também de nomes como Coban Lookchaomaesaitong, Saeksan Janjira, Maurice Travis, Hector Pena, Dennis Still entre outros.
O senhor venceu várias competições, de diversas artes marciais e boxe. Pode mencionar as que mais te marcaram?
R: No Boxe, fui Campeão do 52º Jogos Abertos do Interior na cidade de Santos. Fui Campeão da Forja de Campeões no CMTC Clube em 1988, 1989. No Full-Contact, fui campeão na cidade de Assunção, Paraguai, vencendo o atleta Rolando, aluno de Miguel Senz. Ganhei também US Open, Tat Mau Wong, World Championship, Mundial de Kung Fu, na cidade de Pasadena.
No Muay Thai, fui campeão do Maxim Hotel & Casino, Las Vegas, do NV, do WKA WKF – Roar in the Impire Setembro 24, do Red Lion Hotel in Ontario, vencendo Dominic Yiloria. Ganhei também o Table Moutain Casino US Junior Light Weight Championship, vencendo Keopeth Sychanthavong e do World Championship WWKP – 13 de Novembro – Tarzana. Conquistei outros títulos e participei de outros eventos importantes, mas, infelizmente com o tempo muita coisa se perdeu.
O que te motivou a deixar São Paulo e assumir o compromisso de fundar a Federação Baiana de Muay Thai?
R: Bem, eu morava nos Estados Unidos quando decidi voltar ao Brasil para cuidar de problemas de família. Fui para Bahia, onde conheci a Simone T. Nogueira Correia e acabei me casando com ela e me estabelecendo no estado. Daí, fundamos a 1º Federação de Muay Thai da Bahia. Depois que fundamos a FBMT a modalidade cresceu muito no estado e revelando bons atletas.
E o apelido “Van Damme Brasileiro”? Como surgiu?
R: Bem, esse apelido veio da Revista Impacto e foi criado durante a cobertura do lançamento do filme Kick Boxer com Van Damme no Cine Marabá em São Paulo. Na ocasião, o Gerente do Marabá nos autorizou a montar um ring no saguão do cinema para apresentações de Muay Thai. Eu fica ali o dia todo, lutando com quem aparecesse e topasse lutar comigo. Eu chegava a fazer em média uma 6 lutas por dia. A iniciativa deu tão certo que a plateia preferia ver minhas lutas do que assistir ao filme (risos). Por isso, a Revista me deu esse apelido: Van Damme Brasileiro.
Como é o seu trabalho como Delegado Nacional da CBMT?
R: Como Delegado venho me empenhando em divulgar o trabalho da CBMT, filiar atletas, organizar Exames de Graduação e trazer novos talentos para a Entidade.
Como você vê o Muay Thai brasileiro atualmente?
R: O Muay Thai Brasileiro cresceu muito e crescerá muito mais se todos falarmos a mesma língua. Grupos isolados atrapalham o trabalho da CBMT, mas com a união dos pioneiros da modalidade no Brasil isso pode mudar. Afinal, é a história que fortalece a modalidade.
Quais são suas próximas metas dentro do Muay Thai?
R: Divulgar meu trabalho e continuar desempenhando bem meu trabalho como Delegado da CBMT. Assim como fundar novas Federações para se filiarem a CBMT, continuar treinando e descobrindo novos talentos e divulgar a modalidade bem como a CBMT em revistas, livros e etc.